Teatro das Viagens

sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

minutos de frivolidade: XXVIII




Talvez os astronautas
não tenham conseguido
ler nas nuvens,
estendidas de azul
a azul
os veios
- tão óbvios –
de Aqueronte e
Aquerúsia. Distraídos,
de tanto negro
e de muita légua,
não viram os
assassinos
lançados no Tártaro
ou no Cocito.
A fila dos maus filhos
Rumando para
Periflegeteonte
também passou
despercebida.
Afogados
de luz e sombras,
só puderam ver o azul
e replicar o espanto
de Tales, desastrado,
ao cair em um buraco.

Do primeiro filósofo
ao último cosmonauta,
vale o que sonhamos
sobre o caminho
das almas.
Vale mais o que
os olhos não podem ver.
O que as mãos não podem
tocar.
Vale mais um segundo,
em silêncio, sentindo
o cheiro do mar.
Vale mais um acorde
que se acomoda
como um felino
na mais improvável
cavidade do peito.

Vale mais
a imprecisão
de navegar.

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Devaneio Geológico

Tudo bem, eu sei que o petróleo e o carvão mineral foram formados a partir principalmente das florestas da era carbonífera, há muito tempo atrás (não, não me perguntem como é que eu sei esse tipo de coisa...).

O próprio nome – carbonífera – vem desse fato. A era das samambaias e aranhas gigantes ganha este nome porque estas samambaias e aranhas, depois de mortas, engolidas e digeridas por nosso planeta, viram um líquido preto e viscoso muito importante para a economia de uma sociedade de primatas que surge uns 400 milhões de anos depois.

(Também sabemos que os tais primatas já derramaram muito sangue por conta desses cadáveres de samambaias e aranhas...)

Mas não seria mais poético se o petróleo fosse feito dos dinossauros?

Queimaríamos dinossauros para locomover nossos veículos...

Será que uma ida e volta ao trabalho consumiria um dedo de tiranossauro? Talvez o dedão, no caso de um trajeto mais longo – ou de um engarrafamento.

E o plástico dos CDs que alegram nossos ouvidos durante o trajeto? Teriam vindo eles de um chifre de triceratops?

Quantos dinossauros arderam no forno da siderúrgica para fazer as vigas de nossos arranha-céus?

O nylon da bermuda do surfista: Carnívoro ou herbívoro? Grande ou pequeno? Com dentes, escamas, ossos protuberantes, pele rugosa? De que cor, que tom de verde ou marrom?

Talvez um daqueles com grandes olhos, quase maternais, como nas ilustrações dos livros infantis?

Estranho o fascínio que temos por animais que nunca ninguém viu (ah, o cheiro de um dinossauro!), mas que povoam nossa imaginação. Ora raivosos, ora patéticos, solitários ou em grandes manadas, talvez vejamos neles um espelho distorcido de nós mesmos... Poético seria se nossa modernidade estivesse ligada aos monstruosos e simpáticos lagartos.

Mas não.

O couro falso dos bancos acolchoados...

Os cartões de crédito...

Os invólucros das canetas Bic...

O napalm queimando a menina vietnamita...

As teclas que meus dedos espancam para fazer esse texto...

Apenas samambaias e aranhas.

sexta-feira, 21 de agosto de 2009

Homenagens estranhas... - II

Caso verídico ocorrido em Anchieta.

Um morador, emocionado com o falecimento de seu vizinho e amigo Euclides, resolve homenagear o finado colega.

Para tal, fabrica, com suas próprias mãos, um quebra-molas em sua rua.

E ao monumento ajunta placa, com os seguintes dizeres: "Almenaje ao Ocride"

Aos que duvidam, repito: caso verídico ocorrido em Anchieta.

Homenagens estranhas...

Dizem que uma imagem vale mais do que mil palavras...

domingo, 16 de agosto de 2009

ode a chegada dos atores-viajantes

que venham os delírios
que venham as métricas
que venham as invasões
que venham os desbloqueios
que venham as metáforas
que venham as rimas
que venham os despertares
que venham as tristezas
que venham os paradoxos

que venha o amor

sábado, 8 de agosto de 2009

Break on through

Está aberto o processo.

Não, nada a ver com Kafka.